domingo, 9 de julho de 2023

CRÍTICA| Primeiras Impressões de Ya Çok Seversen

Pôster promocional de Ya Çok Seversen (Foto: Divulgação/Kanal D)


Estreou na última quinta-feira (06/07) a tão aguardada comédia romântica Ya Çok Seversen (If You Love). A produção marca o retorno de Kerem Bürsin ao gênero após o grande sucesso de Será Isso Amor? (2020-2021). O folhetim também é o primeiro trabalho da atriz Hafsanur Sancaktutan (Jogando com o Amor) em uma rom-com.

Além disso, a telenovela conta com alguns nomes veteranos no elenco como Hatice Aslan e Şerif Erol. A produção é da Ay Yapım, com exibição semanal às quintas-feiras pelo Kanal D. O roteiro é original de Kübra Sülün (Afili Aşk), com a colaboração de Ahmet Ruhan Arca, Yeşim Çıtak, Meryem Demirli e Hazal Gülden. Enquanto isso, no momento, a direção é assinada pela dupla Ali Bilgin & Beste Sultan Kasapoğulları de Yargi: Segredos de Família. 

Qual a história?

Leyla (Hafsanur) é uma órfã resiliente com um espírito intenso que se junta a uma equipe de vigaristas para financiar a busca por seus pais que ela desconhece. Quando ela conhece Ateş (Kerem), o descendente taciturno e cínico de uma família rica, as coisas não vão bem. Leyla não gosta dos encantos de playboy de Ateş, vendo-o apenas como mais um esnobe privilegiado. Mas quando o destino os reúne, a personalidade radiante de Leyla gradualmente rompe suas defesas e Ateş descobre um lado novo e mais maduro de si mesmo. Em meio a um cenário de mistério e turbulência emocional, dois opostos se encontram.

Cena de Ya Çok Seversen (Foto: Divulgação/Kanal D)


Antecedentes e futuro das rom-com na Turquia

O ano era 2014 quando a Fox Turquia resolveu apostar em outro produto para captar a atenção do público infanto-juvenil durante as férias escolares do verão. Também com um elenco jovem e rostos bonitos, no entanto, dessa vez, a história não teria como ambientação uma escola. Foi assim que surgiram as comédias românticas no país euro-asiático, sendo a primeira, Kiraz Mevsimi.

Em seguida vieram outros grandes sucessos como Kiralık Aşk (2015-2017), Erkenci Kuş (2017-2018), e mais recentemente, Sen Çal Kapımı (2020-2021). Todavia, o subgênero vem sofrendo uma batalha contra a audiência nos últimos anos. Os números na televisão já não são tão animadores como antes. Isso, é claro, decorre do êxodo do público alvo da frente da TV, o qual migrou para outras mídias, como as redes sociais. A prova é que as comédias românticas são os produtos com maior engajamento na web, o que muitas vezes não diz nada em termos de rating, dado que atualmente a maioria desses dados é proveniente de fãs internacionais.

Diante dessa situação inconstante, estes produtos estão cada vez mais sendo ameaçados pela flecha do cancelamento. E por isso algumas emissoras têm aberto mão aos poucos do que um dia já foi garantia de sucesso. Talvez seja a hora dos roteiristas turcos ousarem mais no texto desses folhetins, seja dando mais camadas para a história, ou turbinando as situações com um tom mais sério. Assim, talvez um público mais maduro consiga se identificar e agregar mais audiência.

Como foi a estreia?

"É porque você pediu pela risada, não pelo chá", disse Lynn Fontanne a seu marido Alfred Lunt quando ele reclamou sobre ficar chateado pelo público não ter achado graça de uma interpretação sua que deveria ser cômica. Assim também acontece quando uma empresa lança um produto com tamanha pretensão a ponto de negligenciar uma revisão detalhada.

Com muita pretensão, a comédia romântica debutou com o pé esquerdo por assim dizer. Logo na primeira cena o texto que dá vida aos diálogos soa cafona e sem nenhuma naturalidade. Na sequência, uma empregada com um sotaque espanhol falso, limpa a casa enquanto recita uma série de frases expositivas. "Um menino tão bom"; "Uma família tão boa". Precisava mesmo disso roteiristas?

Em seguida, conhecemos o protagonista Ateş. Vale mencionar que há uma notória diferença em relação a outras comédias românticas turcas que decidem apresentar primeiro a heroína da história. Logo, podemos esperar que o foco do folhetim seja no personagem Ateş. Proposital?

Kerem Sayer é você? (Foto: Divulgação/Kanal D)


Ateş descobre que o pai faleceu através do mordomo da família. E pela conversa, a morte já tem alguns dias. Dito isso, estranho o protagonista não estar por dentro do assunto em plena era digital, ainda mais se tratando de uma família tão influente como deixam bem claro. Porém, surpreendendo a todos - ou não - Ateş não liga e vai nadar na piscina. Dessa forma, o roteiro dá pistas que os dois não tinham uma relação tão boa, e isso fica claro ao longo do episódio. Ateş nunca perdoou o pai por uma infidelidade, e culpa ele pela morte de sua mãe quando ele tinha 10 anos.

Nesse ponto o texto escorrega mais do que acerta. Ateş volta para Istambul a fim de presenciar a leitura do testamento - todos os filhos devem estar presentes. Entretanto, não é explicado como uma criança de apenas 10 anos abandonou sua família e tornou-se um homem tão rico a ponto de comprar um hotel para benefício próprio. É evidente que ele poderia estar usufruindo da riqueza familiar, porém o mesmo deixa claro que nunca quis nada do pai. Buguei! 

Aziz Caner İnan e Hatice Aslan em cena (Foto: Divulgação/Kanal D)


Além disso, durante o capítulo há várias outras situações que soam ilógicas. Por exemplo, antes de Ateş decidir seguir o testamento do pai ele sai do hotel em um dos carros da família (o mesmo que nunca quis nada da figura paterna), em seguida ele aparece na empresa numa motocicleta (!). Dando sequência ele retorna para a casa da família novamente no carro. Ou seja, um vai e vem sem nenhum sentido, com o único propósito talvez de gerar impacto (não gera, mas vamos fingir). 

Para completar, ainda não revelaram a idade dos personagens, nem no site do Kanal D consta essa informação. Destaco isso, pois não me convence nada um ator com quase quarenta anos como Kerem Bürsin assumir o posto de um jovem de 25/30 anos. 

Leyla aplica golpes em homens ricos através de casamentos falsos (Foto: Divulgação/Kanal D)


Com relação a Leyla, o roteiro consegue ser mais convincente. Ademais, a personagem lembra bastante a protagonista Nehir de Presa do Amor (2020-2021). Ambas começam dando golpes em homens mais velhos através de casamentos falsos. Leyla não conhece seus pais biológicos e foi criada por um homem que se aproveita dela a obrigando fazer parte de seus negócios sujos. Junto a ela, outros jovens fazem parte da quadrilha. Um deles, Onur (Ogulcan Arman Uslu) é apaixonado por ela.

No geral, o argumento de Ya Çok Seversen não é ruim. O conflito de Ateş com Leyla soa interessante, além da evidente relação que deve nascer entre ele e seus irmãos. Porém carece de mais naturalidade. Além disso, os diálogos precisam de mais atenção. A cena de Ateş e Leyla no elevador é outra que peca na veracidade, por exemplo. Em alguns momentos a história lembra outros grandes sucessos como Floricienta (2004-2005) e Ana y los siete (2002-2005).

Hafsanur Sancaktutan como Leyla (Foto: Divulgação/Kanal D)


Direção

Talvez um dos poucos acertos dessa estreia, Ali Bilgin e Beste Sultan se solidificam como uma dupla bastante harmônica. Ambos conseguem trazer uma certa beleza para a tela através de bons enquadramentos e uma iluminação interessante. Inclusive, há uma fixação por plano detalhe, principalmente quando os atores movimentam as mãos ou os pés.

No início estranhei a fotografia, pois ainda acredito que uma aposta mais solar e colorida sairia melhor.

Cena de Ya Çok Seversen (Foto: Divulgação/Kanal D)


Atuações

Kerem Bürsin retorna para as telinhas após um hiatus de quase dois anos. Contudo, nesse primeiro momento o ator não consegue deixar de lado as personalidades de Kerem Sayer e Serkan Bolat, ambos personagens do astro em folhetins passados. Dito isso, Ateş Arcali parece um híbrido dessas duas figuras, e para quem tem acompanhado, é um pouco decepcionante ver os mesmos trejeitos, e ondulações vocais em uso mais uma vez. 

Embora essa repetição prejudique uma interpretação mais segura, o ator consegue captar atenção pelo carisma. Há uma cena que seu personagem convence pelo olhar ao revisitar seu passado quando chega na mansão. Foi uma sequência interessante.

Hafsanur e Kerem em cena (Foto: Divulgação/Kanal D)


Por outro lado, Hafsanur é um dos rostos que mais tem se aventurado em papéis distintos. A atriz começou com um papel difícil em Aşk Ağlatır (2019), depois fez uma jovem rebelde em Son Yaz (2021), e em seguida provou maturidade em Jogando com o Amor (2022). Agora em Ya Çok Seversen ela entrega uma personagem controversa, porém com uma dose de empatia, carisma e sutileza que capturam a atenção de imediato. Acredito que a atriz se encaixa bem em papéis dosados entre o cômico e o trágico.

Outros destaques da abertura são Hatice Aslan como tia de Ateş, e Şerif Erol como o mordomo da família. É muito gratificante ter nomes veteranos de peso no elenco de uma produção onde o público alvo talvez nem conheça o legado dos artistas. Também merecem destaque os nomes de Oğulcan Arman Uslu e Aziz Caner İnan.

Palavra final: Ya Çok Seversen tem uma história clichê, mas carismática. Contudo, peca na falta de veracidade e diálogos mal elaborados.

Nota: 6,5/10,0


Marcadores: , , , ,

0 Comentários:

Postar um comentário

Assinar Postar comentários [Atom]

<< Página inicial