segunda-feira, 24 de julho de 2023

O impacto das novelas turcas na América Latina

Binbir Gece, a primeira novela turca a debutar na América Latina (Foto: Divulgação/Global Agency)


Definida como a nova fábrica de telenovelas pelo jornal espanhol El País, a Turquia se consolidou no mercado de ficções televisivas e atualmente é o segundo país que mais exporta séries no mundo, ficando atrás apenas dos Estados Unidos.

O fenômeno turco iniciou no Chile em 2014, quando a emissora Mega, numa tentativa sem esperança de impulsionar a grade, passou a exibir o drama turco Las Mil y Una Noches (Binbir Gece), o qual foi ao ar na Turquia originalmente entre 2006 e 2009. A telenovela de origem euroasiática não somente elevou os números de audiência do canal, como se tornou um fenômeno, além de ser a responsável por estimular a aquisição de mais títulos provenientes da Turquia.

Segundo Ignacio Vicente, gerente de conteúdos internacionais do Mega, o drama turco chamou sua atenção de imediato devido ao enredo poderoso. Em 2012, junto com Patrício Hernández, diretor executivo do canal, ambos compareceram a uma feira internacional em Cannes (MipTV), na qual ficaram fascinados com o drama turco Las Mil y Una Noches, em cartaz na exposição. “Nós a assistimos em turco, mas a história era narrada em inglês. O trailer era péssimo, mas vimos que ali havia uma excelente história e saímos dali encantados com a telenovela”, confessou Vicente.

Binbir Gece está disponível no catálogo da Global Agency (Foto: Reprodução)


Las Mil y Una Noches permaneceu no ar por 10 meses no Chile, se convertendo em um fenômeno de audiências, elevando de 11 pontos para números acima de 30 no horário nobre. A trama chegou a ser esticada por meio da edição e ficou mais tempo em tela do que o esperado. Ao final de sua exibição, outros 5 dramas turcos já estavam em cartaz na televisão chilena, sendo 2 no Mega, 2 no Canal 13 e 1 no Chilevisión.

Desde então, países como Argentina, Paraguai, Peru, Uruguai, Colômbia, México, dentre outros, passaram a investir pesado em dramas turcos. No Brasil, essas ficções tiveram uma passagem na televisão aberta por meio da emissora Bandeirantes, a qual exibiu títulos, dentre os quais se destacam Mil e uma noites, Fatmagül: a força do amor e Sila, prisioneira do amor

Na Europa, em 2018, a Espanha também abriu espaço em sua programação televisiva para as populares séries turcas, tendo como ponto de partida a exibição de Fatmagül, exibida pelo canal temático Nova, a qual conseguiu uma média de mais de 700 mil telespectadores ao longo de toda a sua exibição. Assim, o folhetim se converteu na telenovela mais assistida da emissora. O grande sucesso de Fatmagül no país fez com que o grupo Atresmedia iniciasse os preparativos para um remake intitulado Alba, atualmente disponível no catálogo da Netflix Brasil.

Quais os ingredientes do sucesso das produções turcas?

Embasadas em conflitos do cotidiano e argumentos simples, as novelas turcas têm atraído um público cada vez mais sólido, composto por jovens e adultos. Essas produções apostam em enredos originais (em sua maioria) e priorizam a abordagem de temas de alcance universal, como amores impossíveis, desencontros amorosos, conflitos familiares, rivalidade entre classes sociais, dramas de superação, dentre outros. Essas características permitem um envolvimento do público com a história que está sendo contada, dessa maneira, conectando os telespectadores com cada personagem e sua jornada durante o desenvolvimento da ficção. 

Porém o grande diferencial das tramas turcas em comparação às recentes produções do gênero de natureza latina, é o resgate de mensagens simbólicas e sociais. Seja por meio de diálogos profundos, ou de gestos simplistas, como o toque entre mãos ou um abraço. O contato sexual muitas vezes é dispensado para dar espaço a uma situação mais sutil, por exemplo. Todavia, aqui cabe mencionar que a imposição da censura por um órgão do governo local é o que interfere nesta exposição limitada. Por isso, algumas produções são mais podadas. 

Cena de Fazilet Hanım ve Kızları, outra novela turca de muito sucesso (Foto: Divulgação/Star TV)


A censura na dramaturgia turca sempre existiu?

Apesar disso, algumas dessas ficções já fugiram da censura em algum momento. Claro, era outro momento na indústria, mas vale destacar alguns casos. Entre 2008 e 2010 o Kanal D exibiu o drama Amor Proibido (Aşk-ı Memnu). Protagonizada por Beren Saat e Kıvanç Tatlıtuğ, a novela gira em torno da relação adúltera entre tia e sobrinho. Além disso, os beijos ardentes do casal são comentados até hoje. 

Amor Proibido foi exibida no Brasil pela Band (Foto: Divulgação/Kanal D)


Em 2010 foi a vez do renomado diretor e produtor Osman Sinav ousar na telinha. No primeiro capítulo da ficção Kiliç Günü, o também roteirista levou ao ar uma cena onde um casal homossexual aparece seminu numa cama. No mesmo ano, Murat Ünalmış e Birce Akalay protagonizaram cenas calientes na novela Yer Gök Aşk, obra original de Sema Ergenekon e Eylem Canpolat

Cena da ficção turca Kiliç Günü, de 2010 (Foto: Reprodução/ATV)


No entanto, ao longo dos últimos anos, devido ao crescimento da política religiosa de Erdoğan, as ficções exibidas na TV aberta da Turquia têm perdido a liberdade de explorar certos assuntos. Como exemplo da isenção da censura, temos as produções turcas feitas para streaming. Nestas, é perceptível como os escritores e diretores são mais livres para abordar temas e sequências mais ousadas. 

A era da internet 

Embora as tramas turcas tenham perdido espaço na televisão aberta brasileira, esses folhetins estão cada vez mais populares nas redes sociais e isso reflete o quão intenso é o impacto dessas ficções fora dos limites da Turquia. 

Em 2018, a comédia romântica Erkenci Kuş, protagonizada por Can Yaman e Demet Özdemir, trouxe um público novo gigante, além de impulsionar a criação dos chamados fandoms. Apesar de não ter sido a pioneira a impulsionar o gênero, com certeza teve influência na forma como se consumem as novelas turcas hoje em dia pelos fãs. 

Erkenci Kuş impulsionou a repercussão nas redes sociais (Foto: Divulgação/Star TV)


O mais recente fenômeno nas mídias digitais foi a comédia romântica Sen Çal Kapımı, exibida pela emissora Fox TV na Turquia. O último episódio exibido em setembro de 2021 atingiu mais de 8 milhões de menções no Twitter, superando o recorde alcançado por Game of Thrones (2011-2019). Ademais, a rom-com turca figurou entre os assuntos mais comentados da rede social em mais de 25 países, assim ocupando uma das posições de destaque nos Trending Topics mundiais. No Brasil, a tag do episódio do dia ficou algumas horas como o assunto mais comentado do país. Atualmente, a telenovela está disponível no catálogo da HBO Max Brasil com o título Será Isso Amor?, além de sua exibição diária no canal por assinatura TNT Novelas

Séries ou novelas?

Seja fã ou não, talvez alguém já deve ter se feito esta pergunta dado as informações contrastantes disponíveis na internet. Diante da ausência de um documento oficial sobre o assunto, há algumas informações que podem nos ajudar a encontrar um conceito comum.

A telenovela, tal como conhecemos na América Latina, é um tipo de série de TV. Bom, pelo menos deveria ser dada a teoria sobre o que seria uma narrativa seriada. Série diz respeito a qualquer sequência, seja de filmes (trilogia...), livros (enciclopédia), música (playlist) ou episódios (telenovela, k-drama, dizi...). Todavia, aqui no Brasil e em alguns países próximos, o público tende a separar novela e série como gêneros diferentes, o que é um erro, pois somente a novela é um gênero. A série de TV é um formato televisivo. 

O fenômeno das novelas turcas mudou o mercado de telenovelas (Foto: Divulgação/Star TV)


Por isso é comum hoje em dia algumas indústrias criarem seus próprios termos, como o Chile que anuncia suas ficções como telesséries. Da mesma forma, na Turquia existe um padrão. Assim, no país euroasiático existe dois modelos: as produções diárias (episódios em torno de 60 min) e as produções semanais (episódios com cerca de 120 min). As primeiras geralmente contam com um elenco debutante e uma produção com menos investimento. Em contrapartida, as semanais reúnem um elenco de estrelas e capítulos com investimentos milionários segundo o Jornal El País. Porém, todas costumam ser divididas em temporadas, pois é mais barato para as produtoras manter uma produção por anos do que iniciar uma nova. 

Estas produções têm como carro chefe de seus enredos conflitos familiares, segredos, reviravoltas, lutas entre o bem o mal, questões morais, romance e tragédias. Em outras palavras, o que move as histórias é o bom, velho e criticado melodrama. Coincidência ou não, os mesmos elementos usados na telenovela. Por isso, quando exportadas, as distribuidoras editam os capítulos em um padrão de 45 minutos por episódio. Assim, estes folhetins podem se adequar ao formato de exibição da América Latina, que tende a exibir capítulos de segunda a sexta-feira.

Em um artigo do The Guardian a historiadora turca Arzu Ozturkmen define estas produções como um híbrido da telenovela com algo mais inovador. Segundo a mesma, no entanto, o certo seria fidelizar o termo “dizi” como um gênero, pois há uma forma particular de contar histórias que só estas ficções possuem. Claro, aqui ela se refere ao formato para a televisão aberta. As demais produções para streaming já se enquadram no padrão série de TV norte-americano que já conhecemos bem. 

Novelas turcas e o preconceito disfarçado

Apesar de muitos telespectadores “fantasmas” propagarem que as ficções turcas, por resgatarem um viés muitas vezes tradicional, apresentam desserviço em suas tramas, esse é apenas mais um estereótipo difundido com base no histórico sociocultural do país e que representa um preconceito disfarçado. 

Temas de impacto social como a violência de gênero, a desigualdade entre classes e o empoderamento feminino tem sido recorrente em diversas produções lançadas anualmente na Turquia. Em 2010, por exemplo, foi levado ao ar o drama Fatmagül'ün Suçu Ne?, que retrata a jornada de uma mulher em busca de justiça após ter sido violentada sexualmente.

Cena de Fatmagül (Foto: Divulgação/Kanal D)


Em 2018, Sen Anlat Karadeniz trouxe como discussão a negligência em torno da violência de gênero. Em 2020 teve Alev Alev, uma trama que apresenta a história de 3 mulheres lutando pela liberdade de usar seus direitos e conseguir justiça. Ou seja, todas essas abordagens citadas valem para qualquer local do planeta e refletem o quão ousados os folhetins turcos podem chegar a fim de retratar e conscientizar a sociedade sobre temas ainda sensíveis.

Sen Anlat Karadeniz deu voz às mulheres vítimas de violência doméstica (Foto: Divulgação/ATV)


Nesse aspecto, a grande problematização em torno das tramas turcas muitas vezes parte por uma visão mais radical em torno da abordagem de determinados temas. Não há problema em conscientizar o público sobre um assunto de abrangência social, considerando que a problemática deve primeiro ser exposta, para então ser discutida. É impossível, por exemplo, discutir sobre violência de gênero sem ter algum fundamento de que este tema é realmente um problema dentro do que está sendo mostrado. Se a narrativa não expõe o problema, então o discurso torna-se gratuito e vazio. 

Um fenômeno em expansão

A cada ano o catálogo de dizileri (como essas produções são chamadas na Turquia) tem sido impulsionado, sendo produzidas cerca de 15 ficções televisivas por ano. Em meio a esse cenário, o nome de diversos artistas da Turquia se tornou tendência em alguns países, como Can Yaman na Itália e Engin Akyürek na América Latina. 

Todo esse êxito despertou o interesse da Netflix pela teledramaturgia turca, a qual tem produzido algumas séries no país e disponibilizado em seu catálogo. Em 2020 a plataforma de streaming lançou a série Bir Başkadır (8 em Istambul), produção que recebeu sinal verde da crítica especializada pela abordagem realista do dia-a-dia de pessoas comuns na Turquia que possuem retratos sociais diferentes, e o choque cultural resultante disso. 

Seja na América Latina, na Europa, Oriente Médio ou em qualquer parte do globo, a dramaturgia turca tem chamado atenção. Enquanto o interesse internacional por esse tipo de produto continuar em alta, o mercado de ficções televisivas tende a crescer cada vez mais.


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domingo, 9 de julho de 2023

CRÍTICA| Primeiras Impressões de Ya Çok Seversen

Pôster promocional de Ya Çok Seversen (Foto: Divulgação/Kanal D)


Estreou na última quinta-feira (06/07) a tão aguardada comédia romântica Ya Çok Seversen (If You Love). A produção marca o retorno de Kerem Bürsin ao gênero após o grande sucesso de Será Isso Amor? (2020-2021). O folhetim também é o primeiro trabalho da atriz Hafsanur Sancaktutan (Jogando com o Amor) em uma rom-com.

Além disso, a telenovela conta com alguns nomes veteranos no elenco como Hatice Aslan e Şerif Erol. A produção é da Ay Yapım, com exibição semanal às quintas-feiras pelo Kanal D. O roteiro é original de Kübra Sülün (Afili Aşk), com a colaboração de Ahmet Ruhan Arca, Yeşim Çıtak, Meryem Demirli e Hazal Gülden. Enquanto isso, no momento, a direção é assinada pela dupla Ali Bilgin & Beste Sultan Kasapoğulları de Yargi: Segredos de Família. 

Qual a história?

Leyla (Hafsanur) é uma órfã resiliente com um espírito intenso que se junta a uma equipe de vigaristas para financiar a busca por seus pais que ela desconhece. Quando ela conhece Ateş (Kerem), o descendente taciturno e cínico de uma família rica, as coisas não vão bem. Leyla não gosta dos encantos de playboy de Ateş, vendo-o apenas como mais um esnobe privilegiado. Mas quando o destino os reúne, a personalidade radiante de Leyla gradualmente rompe suas defesas e Ateş descobre um lado novo e mais maduro de si mesmo. Em meio a um cenário de mistério e turbulência emocional, dois opostos se encontram.

Cena de Ya Çok Seversen (Foto: Divulgação/Kanal D)


Antecedentes e futuro das rom-com na Turquia

O ano era 2014 quando a Fox Turquia resolveu apostar em outro produto para captar a atenção do público infanto-juvenil durante as férias escolares do verão. Também com um elenco jovem e rostos bonitos, no entanto, dessa vez, a história não teria como ambientação uma escola. Foi assim que surgiram as comédias românticas no país euro-asiático, sendo a primeira, Kiraz Mevsimi.

Em seguida vieram outros grandes sucessos como Kiralık Aşk (2015-2017), Erkenci Kuş (2017-2018), e mais recentemente, Sen Çal Kapımı (2020-2021). Todavia, o subgênero vem sofrendo uma batalha contra a audiência nos últimos anos. Os números na televisão já não são tão animadores como antes. Isso, é claro, decorre do êxodo do público alvo da frente da TV, o qual migrou para outras mídias, como as redes sociais. A prova é que as comédias românticas são os produtos com maior engajamento na web, o que muitas vezes não diz nada em termos de rating, dado que atualmente a maioria desses dados é proveniente de fãs internacionais.

Diante dessa situação inconstante, estes produtos estão cada vez mais sendo ameaçados pela flecha do cancelamento. E por isso algumas emissoras têm aberto mão aos poucos do que um dia já foi garantia de sucesso. Talvez seja a hora dos roteiristas turcos ousarem mais no texto desses folhetins, seja dando mais camadas para a história, ou turbinando as situações com um tom mais sério. Assim, talvez um público mais maduro consiga se identificar e agregar mais audiência.

Como foi a estreia?

"É porque você pediu pela risada, não pelo chá", disse Lynn Fontanne a seu marido Alfred Lunt quando ele reclamou sobre ficar chateado pelo público não ter achado graça de uma interpretação sua que deveria ser cômica. Assim também acontece quando uma empresa lança um produto com tamanha pretensão a ponto de negligenciar uma revisão detalhada.

Com muita pretensão, a comédia romântica debutou com o pé esquerdo por assim dizer. Logo na primeira cena o texto que dá vida aos diálogos soa cafona e sem nenhuma naturalidade. Na sequência, uma empregada com um sotaque espanhol falso, limpa a casa enquanto recita uma série de frases expositivas. "Um menino tão bom"; "Uma família tão boa". Precisava mesmo disso roteiristas?

Em seguida, conhecemos o protagonista Ateş. Vale mencionar que há uma notória diferença em relação a outras comédias românticas turcas que decidem apresentar primeiro a heroína da história. Logo, podemos esperar que o foco do folhetim seja no personagem Ateş. Proposital?

Kerem Sayer é você? (Foto: Divulgação/Kanal D)


Ateş descobre que o pai faleceu através do mordomo da família. E pela conversa, a morte já tem alguns dias. Dito isso, estranho o protagonista não estar por dentro do assunto em plena era digital, ainda mais se tratando de uma família tão influente como deixam bem claro. Porém, surpreendendo a todos - ou não - Ateş não liga e vai nadar na piscina. Dessa forma, o roteiro dá pistas que os dois não tinham uma relação tão boa, e isso fica claro ao longo do episódio. Ateş nunca perdoou o pai por uma infidelidade, e culpa ele pela morte de sua mãe quando ele tinha 10 anos.

Nesse ponto o texto escorrega mais do que acerta. Ateş volta para Istambul a fim de presenciar a leitura do testamento - todos os filhos devem estar presentes. Entretanto, não é explicado como uma criança de apenas 10 anos abandonou sua família e tornou-se um homem tão rico a ponto de comprar um hotel para benefício próprio. É evidente que ele poderia estar usufruindo da riqueza familiar, porém o mesmo deixa claro que nunca quis nada do pai. Buguei! 

Aziz Caner İnan e Hatice Aslan em cena (Foto: Divulgação/Kanal D)


Além disso, durante o capítulo há várias outras situações que soam ilógicas. Por exemplo, antes de Ateş decidir seguir o testamento do pai ele sai do hotel em um dos carros da família (o mesmo que nunca quis nada da figura paterna), em seguida ele aparece na empresa numa motocicleta (!). Dando sequência ele retorna para a casa da família novamente no carro. Ou seja, um vai e vem sem nenhum sentido, com o único propósito talvez de gerar impacto (não gera, mas vamos fingir). 

Para completar, ainda não revelaram a idade dos personagens, nem no site do Kanal D consta essa informação. Destaco isso, pois não me convence nada um ator com quase quarenta anos como Kerem Bürsin assumir o posto de um jovem de 25/30 anos. 

Leyla aplica golpes em homens ricos através de casamentos falsos (Foto: Divulgação/Kanal D)


Com relação a Leyla, o roteiro consegue ser mais convincente. Ademais, a personagem lembra bastante a protagonista Nehir de Presa do Amor (2020-2021). Ambas começam dando golpes em homens mais velhos através de casamentos falsos. Leyla não conhece seus pais biológicos e foi criada por um homem que se aproveita dela a obrigando fazer parte de seus negócios sujos. Junto a ela, outros jovens fazem parte da quadrilha. Um deles, Onur (Ogulcan Arman Uslu) é apaixonado por ela.

No geral, o argumento de Ya Çok Seversen não é ruim. O conflito de Ateş com Leyla soa interessante, além da evidente relação que deve nascer entre ele e seus irmãos. Porém carece de mais naturalidade. Além disso, os diálogos precisam de mais atenção. A cena de Ateş e Leyla no elevador é outra que peca na veracidade, por exemplo. Em alguns momentos a história lembra outros grandes sucessos como Floricienta (2004-2005) e Ana y los siete (2002-2005).

Hafsanur Sancaktutan como Leyla (Foto: Divulgação/Kanal D)


Direção

Talvez um dos poucos acertos dessa estreia, Ali Bilgin e Beste Sultan se solidificam como uma dupla bastante harmônica. Ambos conseguem trazer uma certa beleza para a tela através de bons enquadramentos e uma iluminação interessante. Inclusive, há uma fixação por plano detalhe, principalmente quando os atores movimentam as mãos ou os pés.

No início estranhei a fotografia, pois ainda acredito que uma aposta mais solar e colorida sairia melhor.

Cena de Ya Çok Seversen (Foto: Divulgação/Kanal D)


Atuações

Kerem Bürsin retorna para as telinhas após um hiatus de quase dois anos. Contudo, nesse primeiro momento o ator não consegue deixar de lado as personalidades de Kerem Sayer e Serkan Bolat, ambos personagens do astro em folhetins passados. Dito isso, Ateş Arcali parece um híbrido dessas duas figuras, e para quem tem acompanhado, é um pouco decepcionante ver os mesmos trejeitos, e ondulações vocais em uso mais uma vez. 

Embora essa repetição prejudique uma interpretação mais segura, o ator consegue captar atenção pelo carisma. Há uma cena que seu personagem convence pelo olhar ao revisitar seu passado quando chega na mansão. Foi uma sequência interessante.

Hafsanur e Kerem em cena (Foto: Divulgação/Kanal D)


Por outro lado, Hafsanur é um dos rostos que mais tem se aventurado em papéis distintos. A atriz começou com um papel difícil em Aşk Ağlatır (2019), depois fez uma jovem rebelde em Son Yaz (2021), e em seguida provou maturidade em Jogando com o Amor (2022). Agora em Ya Çok Seversen ela entrega uma personagem controversa, porém com uma dose de empatia, carisma e sutileza que capturam a atenção de imediato. Acredito que a atriz se encaixa bem em papéis dosados entre o cômico e o trágico.

Outros destaques da abertura são Hatice Aslan como tia de Ateş, e Şerif Erol como o mordomo da família. É muito gratificante ter nomes veteranos de peso no elenco de uma produção onde o público alvo talvez nem conheça o legado dos artistas. Também merecem destaque os nomes de Oğulcan Arman Uslu e Aziz Caner İnan.

Palavra final: Ya Çok Seversen tem uma história clichê, mas carismática. Contudo, peca na falta de veracidade e diálogos mal elaborados.

Nota: 6,5/10,0


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CRÍTICA| Primeiras Impressões de Dönence

Pôster de Dönence (Foto: Divulgação: Kanal D)


Estreou na tela do Kanal D na última terça-feira (04/07) o drama juvenil Dönence (Daylight). Trata-se de uma adaptação livre da produção israelense Exceptional (2022), a cargo da produtora D Media. É protagonizada por Caner Topçu (Duy Beni) e Sümeyye Aydoğan (Iludida), com roteiro assinado por Ebru Hacıoğlu, İbrahim Güler e Melek Ordu. A direção do folhetim corre nas mãos de Serdar Gözelekli.

Qual a história?

Durante todo o verão, Gece (Sümeyye) faz planos de ir para a universidade e também cantar com o namorado Emir (Atakan Hoşgören) em Istambul. Todos os seus sonhos, no entanto, são adiados quando sua família toma a decisão repentina de deixar a cidade e mudar-se para Foça, em Esmirna, devido à condição especial de Gülce (Ülkü Hilal Çiftçi), irmã de Gece. 

Gülce sofre da Síndrome de Asperger e luta com a multidão e a natureza selvagem de Istambul. Em Foça, Gece conhece Özgür (Caner), um belo instrutor do clube de surf onde Gülce está matriculada. Ele dedicou sua vida a seu irmão Rüzgar (Doğan Karakaş), que também sofre da Síndrome de Asperger – que foi desencadeada após a perda de seus pais em um brutal incêndio. À medida que Gece e Özgür se aproximam, Gece aprende a perceber a vida a partir de uma percepção mais madura, enquanto Özgür percebe que a vida é muito curta e não deve ser adiada. No entanto, a chegada inesperada do Emir à Foça desencadeia novos obstáculos na vida de Gece.



Cena de Dönence (Foto: Divulgação/Kanal D Internacional)


Como foi a estreia?

A primeira cena do folhetim se desenvolve dentro de um shopping center, quando Gece se desespera ao ver a irmã autista perder o controle numa loja de roupas. De fato, uma sequência ideal para uma apresentação emocionante, porém a direção abusou de efeitos sonoros desnecessários e um estado caótico que tirou todo o apelo dramático da sequência. No entanto, esse foi apenas o começo de várias cenas que mais pareciam uma paródia de algo sério. 

O drama tenta convencer o público a todo instante que os protagonistas vivem cercados de dúvidas e inseguranças, o que os leva a se encontrarem. Uma proposta interessante, mas desempenhada sem sutileza de texto, tampouco da direção de cenas. Um exemplo claro ocorre quando em meio a problemas financeiros e familiares, tudo que Özgür e Gece querem no momento é sair para nadar por uma hora. A ideia aqui foi apresentar uma fuga para o sufoco dos protagonistas, todavia conduzida de forma abrupta. 

Gece e sua família (Foto: Divulgação/Kanal D)


Além disso, o argumento no geral incomoda ao tentar vender a ideia que portadores de Asperger podem ter uma vida normal, enquanto ao mesmo tempo apresenta os personagens como dependentes de outros a sua volta. Nem a irmã de Gece, ou o irmão de Özgür conseguem ficar 5 minutos sozinhos sem causar algum problema. Apesar de não ser uma realidade tão falsa, vai em contramão à proposta da narrativa. É só lembrar de outras ficções turcas que se saíram bem melhor nesse sentido como o drama médico Um Milagre (2019-2021).

Por outro lado, o drama acertou em cheio na trilha sonora, seja na escolha das músicas ou dos instrumentais. Felizmente, todos funcionam.

Özgür e Rüzgar (Foto: Divulgação/Kanal D)


Atuações

Tanto Caner Topçu como Sümeyye Aydoğan são promessas no campo cênico. Infelizmente, por enquanto, só promessas mesmo. Imaginei que após Duy Beni (2022) ambos fossem expandir seus horizontes no campo artístico, mas em Dönence isso ainda está muito longe de dar certo. 

Caner tem em mãos um bom personagem, uma carga dramática proveitosa, e cenas que podem render. Todavia, o galã não consegue entregar mais que uma expressão estática que não agrega nenhum sentimento. 

Sümeyye e Caner (Foto: Divulgação/Kanal D)


Enquanto isso, Sümeyye faz o contrário, porém peca no excesso. A jovem usa muito malabarismo com as mãos, o que torna sua interpretação muito falsa. Parece que ela está dando uma aula ao invés de viver sua personagem. Inclusive, na segunda metade do capítulo a direção percebe isso, e a partir de então a atriz só aparece em enquadramentos mais fechados (Primeiro plano ou Close-UP).

No elenco mais adulto, o destaque fica por conta de Emre Kınay. O ator já é especialista em dar vida a pais controversos, ou anti-heróis. Ao que tudo indica, ele será o grande vilão dessa história assim como em seu trabalho anterior na TV, Tozluyaka (2022). Vamos aguardar.

Elenco de Dönence (Foto: Divulgação/Kanal D)


Palavra final: Com um visual litorâneo e belas canções, Dönence debuta com problemas de direção e roteiro, mas com um respiro de sobrevivência. 

Nota: 6,0/10,0


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